Pequena Crônica ao Medo
Quem dera, nós humanos, singulares exemplares de gente, poder passar para as mãos, para a ponta do lápis o que se passa dentro de nós... nas escombrosas, nebulosas nuvens de nossos pensamentos... Poder transpor em palavras essa medonha mistura de sentidos, sentimentos e temores, avassaladores das nossas ébrias lembranças. Mas quem somos para ter a impetuosidade do esquecimento, deste ambíguo filho do tempo que está sempre à nossa espreita, esperando que nos apaixonemos, para assim vizitar-nos de súbita chegada: o Medo!
Ah! Esse covarde imune à tudo, que não assume o mal que nos faz. Chega justo na hora errada. Justo na hora de saltar o abismo... fraquejando-nos uma das pernas para que não alcansemos o outro lado, os outros braços... Covarde, medíocre!!! Faz-nos errar o pulo e cair, cair profundamente. E muitas vezes sem forças para levantar os olhos e contemplar ainda o pequeno círculo de céu que nos resta.
Que amarga se torna a saliva que nos faz engolir à seco, quando seus dedos, frios, tocá-nos na mais profunda ferida, deixando-nos escapar entre os lábios temerosos: -Ah! se eu tivesse tentado!
Que companhia infiel se torna o medo... nem segredos, nem poemas, nem poesias deixa rescitar. Destruidor! Chega justo na hora do Sim... naquela hora abstrata, hora exata em que iria dizer Eu Te Amo...