Lágrimas Ocultas

Se me ponho a cismar em outras eras

Em que rí e cantei, em que era querida,

Parece-me que foi outras esferas,

Parece-me que foi numa outra vida...

E a minha triste boca dolorida

Que dantes tinha o rir das primaveras,

Esbate as linhas graves e severas

E cai num abandono de esquecida!

E fico, pensativa, olhando o vago...

Toma a brandura plácida dum lago

O meu rosto de monja de marfim...

E as lágrimas que choro, branca e calma,

Ninguém as vê brotar dentro da alma!

Ninguém as vê cair dentro de mim!

(Florbela Espanca)

Try
Enviado por Try em 05/08/2010
Código do texto: T2419221