Ato Jurídico Perfeito

Querida!

Neste dia despertei com animus de amar

E nessa ordem do dia

Gostaria de proclamar

Sem mais delongas

A abertura da sessão

Que expressa sua ternura.

Quando dizes

Que fui feito para pleitear ao teu lado

No tribunal da vida

Teus carinhos eternos

Tua ternura singela

Com a devida vênia!

Não sei se teria o devido preparo

Pois teria quesitos

Que não responderia eu a contento

Os quais não permitem entender

O poder constituinte de tanta beleza.

És um ato jurídico perfeito!

De tão majestosa que és!

És protegida!

Figuras no rol das Cláusulas Pétreas!

Coisa soberanamente julgada!

Não existindo recurso ou ação

Capaz de modificá-la

Apoucado sou em direito comparado a ti

Tens a imunidade dos deuses

Fórum privilegiado das mais honrosas damas

Foste proclamada!

Norma amável!

Magna das beldades!

Ao som da democracia perfeita!

Com enorme prazer

Sofreria o bis in idem

Do teu beijo

Apegando-me a diligências

Pra encontrar o liame que nos une!

O nexo de causalidade de tão irreprochável sentimento!

Corolário da natureza

Que faz com que não te esqueça

Que faz com que esteja firme

No propósito de ter a ti.

E se por algum motivo

A lide que transgride a razão

Colacionar reiterados julgados em desfavor de ti

Executando a dívida da amargura

Fazendo-te sucumbir ao arrepio da solidão

Trazendo a termo

A segurança sentida

Tornando indiscutível a relação

Imutável

Sem esperança

Ainda assim

Seu sorriso concede a mim

A inspiração de uma excelente

Ação rescisória

Onde os tribunais da tristeza

A suprema corte da amargura

Não vêem outro caminho

A não ser

Conceder o Habeas Corpus da felicidade

E em decisão unânime

Promovem a concessão da liberdade

Face as irrefutáveis provas de meu amor por ti!

E se de outra forma

Em outro tempo da vida

Em posição de magistrado

Mesmo intempestivo para ter a ti

Não deixaria sua causa ser julgada por outro

Mas

Ao alvedrio da incompetência relativa

Acolheria a demanda

E faria prorrogar a mim

Para que com alegria

Extra,

Ultra petita

Prolataria a sentença

Mesmo que absurda!

Mas que possa delegar ao carinho

A competência absoluta de te amar

Ainda que não acolhida pela razão

E usurpando o poder judicante

Sofreria o aberratio

De não pertencerdes a minha função jurisdicional

Dominius litis seria em seu favor!

Pleitearia a sua causa!

Temeria deixar seu recurso deserto

Aforando extraordinariamente minha alma por ti

Ainda que o anacronismo da vida

Venha trazer a morte do companheirismo

Ainda que o ciúme legiferante

Venha a revogar nossa lei de paz

Tu podes

Com competência exclusiva

repristiná-la!

Ainda em um diferente momento

Em que ocorra reconvenção

Que tu serias meu patrono

E desta vez

Eu preso e perdido

Aprisionado pelo medo

Sozinho sem estar só

Esperando somente

O teu mandado

Que traz segurança

Livrar-me do tempo excessivo

Em que estive preso no cárcere da agonia

Outrora envenenado pelos dardos do passado

Agora tenho a livre iniciativa

A dignidade humana

Garantida pelo direito de te amar

Concedida pela tua soberania

Com plena eficácia

És o mais nobre e sublime dos preceitos!

Pertence ao rol das Cláusulas Pétreas

Com núcleo imodificável!

Intocável para abolir!

És a demanda mais digna

Mais sublime

A qual corte alguma

Em tempo algum

Teve a honra de julgar

Transcendental em majestade

Tão perfeita em plenitude

Mais querida entre as leis vivas

E se na presença de tanto não bastasse

E se de tudo

Outra vez

Estivesses tu em meu lugar

Seria eu

Teu defensor dativo

E quando a oposição da tristeza te combater

E o terrível membro do parquet

Com suas denúncias atrozes

Requerer a injustiça contra ti

Saiba

Que não serás revel!

Estarei ali

Não deixarei que deneguem a ti

A segurança pleiteada

E nas horas mais escuras

Onde a luz do ordenamento pátrio não te acolher

E se o socorro querido intempestivo for

Serei sempre seu recurso adesivo!

Sem supressão de instância!

Sem supressão do meu amor por ti.

E se por alguma intempérie

Restar ainda a ululante litigância de má fé

A qual possa tornar impossível a vitória

Ou mitigar a meu direito de te amar

Não declinarei da competência

Permanecerei firme

Sendo a comoriência

O único modo de me tirarem a vida

Pois viver sem te ter

Seria uma demanda perdida

Sem possibilidade de emenda

Fenecida

Destruída

Mas guerrearei

Batalharei pra trazer a ti o provimento

Reconhecido

Admitido

E ao vergastar a conquista

Pela sentença sentida

Sentença não sendo formal

Sentença final

Sem mais nada a prover

Como tudo bem relatado

E livre dos demais

Em minhas alegações finais

Posso agora afirmar

Teremos regozijo

Partilharemos mais sublimes e imensuráveis honorários

Jamais percebidos

Jamais desfrutados

Honorários do amor perfeito

Com a nobre causa vencida

Destarte

Agora indiscutível

Com adquirido direito

Tão zelado e perfeito

Viveremos o amor

Sem retorno da dor

Com todo poder de constituir

Emanado

Protegido

Escondido, mas reconhecido

Em ti

Pequena alma gêmea

Pequena Pérola da lei.