AMOR PROLETÁRIO
Tua presença anabolizava,
Nutria-me as surradas estruturas.
A quintessência do que eu poderia esperar,
A completude do que se me permitiria
Resumia-se num beijo enviesado,
Em sempiternos e mansos abraços,
No moroso afago do reencontro cotidiano
Consumado num distraído bate-papo
Ao final de cada laborioso dia...
A vida caberia tranquilamente enquadrada
No pequeníssimo sonho desabusado
Deste simplório amante proletário...
Então veio o dia sem final de dia...
Dali, prossegui só... Contornando-me,
Alquebrado do choque, ombros quedados,
Boca devoluta, peito despovoado...
Saíste a buscar pela aí, um “certo algo”
Que minha insipiência não alcança
E que querias descobrir sozinha...
A parca bagatela que sobejava, amargou
E, desde então, nada mais palatável persiste
A subtrair-se destes dias banais
Ausentes de qualquer final, mesmo que triste...
Sigo adiante. Uma vida prostrada...
E não sirvo para mais nada
E não galgo mais nada
E nem ser burguês mais, eu quero...