Tocatta

O fabricante de valsas percorre o caminho,

Trazendo o gosto do perdido e o sentimento do ante-ontem.

A fome que diz respeito ao espírito,

Insinua um perfume brevíssimo,

Que se convencionou chamar esperança.

Ao passar por velhas estradas,

Ouve o apêlo das trompas de caça,

E o que era um sorriso no canto da boca,

Vira gargalhada convulsa, no entanto, inacabada.

Sobre tais acontecimentos inusitados,

Usou suas palavras poliédricas,

E escreveu uma valsa bastante particular.

E detendo-se ante o portal do inferno,

Percebeu que tudo na vida é uma escolha.

Assim pôde abarcar com propriedade os sons,

Ao invés de lidar com cores desconhecidas.

Seus achaques e gritos desconstruíram o ar,

Espantando para longe os espíritos crepusculares.

E um horizonte esquisito se apresentou depois,

Desenhado a mercúrio, cromo, ouro e silêncio.

Não sem surpresa, de suas partituras inacabadas,

Surgiram farpas e dentes crispados,

Mas também amores e pássaros.

A inconstância de sua fala,

tem a instabilidade dos aquosos voláteis.

Propôs a venenos raros que o dopassem,

Para que o sono fosse eterno.

Mas no fim, viu que o torpor produzia enganos,

E o melhor era continuar o caminho.

Um dia, outro dia e mais outro.

Por mais que seja feita a escuridão,

Nas partituras e poemas sangrentos,

Ainda assim há luz, um parco brilho,

Que no fim, responde a todas as perguntas.

Lenta. Muito lentamente.