Naquela triste e leda madrugada…
Quantos quilómetros percorri…?
Não sei
Só sei que fugia
De nós
Da nossa mesma morada
Só parando quando o carro
Se recusou a andar mais
Se calhar esgotado de mim
Esgotado das nossas recordações
Memórias bem claras
Vividas lá dentro
Que naquela noite
Eram as minhas assombrações…
Parei
E fumei mais um cigarro
Rendi-me às memórias
E lembrei-me
De noites sempre a girar
De quarto em quarto
Do carro rápido
Que nos levava para longe
De nós próprios
E que no distante
Nos costumava aproximar
Imagens de corpos a fundirem-se
Tocam-me na memória
De quarto em quarto
De copo em copo
De cigarro em cigarro
Numa espécie de poesia calada
Escrevemos a nossa história…
Até que dei comigo
A achar-te o amor de uma vida
E no teu corpo de mulher
Que amava
Vi o meu pior perigo
Amava-te
Amei
Até à exaustão
E ao aperceber-me disso
Descobri
Que nunca mais
Poderia ficar
Contigo…
E assim
Rasguei juras de amor eterno
Esqueci-me das palavras
Da eternidade
Deixei-te sem uma
Tive que partir
Rumo a algures
Fora e dentro de mim
O nosso auge
Foi a nossa decadência
Porque geneticamente
Eu sou assim
Porque apesar de amar o amor
Amava mais a calma
Que a nossa intensidade
Amava-te
E amo meu amor
Mas para nós
Naquela altura
Era demasiado tarde…
Naquela triste e leda madrugada…