Naquela triste e leda madrugada…

Quantos quilómetros percorri…?

Não sei

Só sei que fugia

De nós

Da nossa mesma morada

Só parando quando o carro

Se recusou a andar mais

Se calhar esgotado de mim

Esgotado das nossas recordações

Memórias bem claras

Vividas lá dentro

Que naquela noite

Eram as minhas assombrações…

Parei

E fumei mais um cigarro

Rendi-me às memórias

E lembrei-me

De noites sempre a girar

De quarto em quarto

Do carro rápido

Que nos levava para longe

De nós próprios

E que no distante

Nos costumava aproximar

Imagens de corpos a fundirem-se

Tocam-me na memória

De quarto em quarto

De copo em copo

De cigarro em cigarro

Numa espécie de poesia calada

Escrevemos a nossa história…

Até que dei comigo

A achar-te o amor de uma vida

E no teu corpo de mulher

Que amava

Vi o meu pior perigo

Amava-te

Amei

Até à exaustão

E ao aperceber-me disso

Descobri

Que nunca mais

Poderia ficar

Contigo…

E assim

Rasguei juras de amor eterno

Esqueci-me das palavras

Da eternidade

Deixei-te sem uma

Tive que partir

Rumo a algures

Fora e dentro de mim

O nosso auge

Foi a nossa decadência

Porque geneticamente

Eu sou assim

Porque apesar de amar o amor

Amava mais a calma

Que a nossa intensidade

Amava-te

E amo meu amor

Mas para nós

Naquela altura

Era demasiado tarde…

Naquela triste e leda madrugada…

Miguel Patrício Gomes
Enviado por Miguel Patrício Gomes em 21/07/2010
Código do texto: T2390485
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