Encontro casual
Não basta querer apagar o passado.
Quando menos esperamos,
numa rua qualquer, ele nos surpreende.
Os anos em que as reminiscências
ficaram adormecidas dentro do peito,
voltam de maneira incontida.
Perdemos o compasso.
Já não sabemos mais como disfarçar.
Ou ignoramos,
ou passamos por mal educadas.
Seu sorriso ainda é o mesmo.
O olhar penetrante ultrapassa a barreira do corpo,
desnudando a alma como se soubesse
que ainda há resquício de saudade.
Palavras sem sentido num total embaraço.
Na mente voltam os detalhes:
a comida preferida, o perfume,
a música tema dos dois...
My love, de Paul McCartney,
ressurge daquele compartimento
onde ficam os segredos: o motivo da primeira briga,
as doces reconciliações, o sabor do beijo.
Com o choque já controlado,
voltam as lembranças dos tropeços perdoados,
das mentiras deslavadas
que foram aceitas em nome do amor.
Seria amor?
As traições,
as noites de insônia em que o travesseiro
ficara banhado de lágrimas...
Repenso sobre a minha vida.
Sem ele,
fora triste, sim.
Não tenho como negar.
Aos poucos, tudo se encaixa:
o amor desbota,
a saudade é arremessada ao passado
onde deveria ter ficado.
A pulsação se normaliza.
O aceno de despedida
logo transformado
em mais um encontro casual...