Encontro casual

Não basta querer apagar o passado.

Quando menos esperamos,

numa rua qualquer, ele nos surpreende.

Os anos em que as reminiscências

ficaram adormecidas dentro do peito,

voltam de maneira incontida.

Perdemos o compasso.

Já não sabemos mais como disfarçar.

Ou ignoramos,

ou passamos por mal educadas.

Seu sorriso ainda é o mesmo.

O olhar penetrante ultrapassa a barreira do corpo,

desnudando a alma como se soubesse

que ainda há resquício de saudade.

Palavras sem sentido num total embaraço.

Na mente voltam os detalhes:

a comida preferida, o perfume,

a música tema dos dois...

My love, de Paul McCartney,

ressurge daquele compartimento

onde ficam os segredos: o motivo da primeira briga,

as doces reconciliações, o sabor do beijo.

Com o choque já controlado,

voltam as lembranças dos tropeços perdoados,

das mentiras deslavadas

que foram aceitas em nome do amor.

Seria amor?

As traições,

as noites de insônia em que o travesseiro

ficara banhado de lágrimas...

Repenso sobre a minha vida.

Sem ele,

fora triste, sim.

Não tenho como negar.

Aos poucos, tudo se encaixa:

o amor desbota,

a saudade é arremessada ao passado

onde deveria ter ficado.

A pulsação se normaliza.

O aceno de despedida

logo transformado

em mais um encontro casual...

bette vittorino
Enviado por bette vittorino em 12/09/2006
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