Há um Todo Imenso Cheio de Amor…
Percorro as ruas nocturnas
Em busca de um algo
Se calhar
Em busca de mim
Cruzo-me com uma mulher
Que sorri
E eu não sei o que fazer
Não sei se lhe retribuo o sorriso
Se vou estar com ela
Até ao amanhecer
Para depois partir
Depois de uma relação de espelho
Em que mais do que a ela
Dei comigo
A melhor me conhecer…
Não me interessam corpos
Essa é a última das minhas prioridades
Interessa-me o toque dela
O facto dela
Me querer conhecer
Apenas por umas horas
Porque depois de o fazer
Fica cheia do que eu sou
E logo depois irá desaparecer…
Bebo então mais um copo
Fumo o milésimo cigarro
E dou comigo a pensar
Porque mesmo com companhia
Me sinto sempre
E sempre me sentirei abandonado…
Descubro outra pessoa
E mudo a abordagem
Pois não quero uma mulher por horas
Quero por uma eternidade
Embora este pensamento me perturbe
Porque me embriago no afecto
Com ele não sei lidar
E anos são algo
Que me costuma perturbar
Pergunto-lhe então
“Queres comigo viajar…?”
E ela inquere-me
“Para onde…?”
E eu respondo
“Até às estrelas
e ao que está por detrás delas
para além delas
mas nunca
meu amor
me peças
para parar
porque quando parar
eu deixarei de te amar
porque se fico
contigo
no mesmo espaço concreto
no mesmo lugar
logo irei morrer
e morrerá também
o que há entre nós
eu tenho que andar sempre
jamais ficar no mesmo canto
eu tenho sempre
que ir para algum lado
essa é a única forma
de conservar o afecto
de o preservar
e o afecto
individual
ou colectivo
é
a minha forma de ser
a minha forma de estar…”
E ela põe-se
A pensar
Nunca conheceu um aspie
Cheio de tantas coisas
Concreto
Nas suas indefinições
Lógico
Nas suas evanescentes emoções
E põe-se a pensar
Se irá comigo
Mas enquanto pensa
Eu fico impaciente
E parto
Em direcção
Ao meu indefinido
O tempo persegue-me
A vida anda atrás de mim
E eu ando atrás dela
E parto mais uma vez
Porque apesar de gostar estar
A itinerância dúbia
É o meu sonho
Mais premente
Pois…
Há um Todo Imenso Cheio de Amor…Algures…