Os dois seres do deserto
Nem sei como mas, sei...,
porque há em mim, vejo, um outro homem engraçado,
um descansando no outro em certos afagos,
mas, os dois, inda perdido dos outros.
Eles se entreolham sem nada dizere um ao outro,
duas faces felizes meio às tristezas tolas,
onde não há alimentos mas se põe a mesa
e todos se desejam, mas ninguém se come!
Há entre nós dois o amor e a vida,
um aconselhador e o outro que se aconselha
nos ditosos oásis dos desentendidos,
onde moram abraçados os desejos e os perigos.
Vicejam tantos desertos, meio às imagens tidas
e nada se ler no que não se acredita,
porque quando eles amam, troveja nos céus
os relâmpagos disfarçados de boas meninas...
Eu estou no ser que sou,
afagado por um lúcido e tão grande amor,
driblando na arena dos leões de Roma,
na mansa timidez do que não se conta,
para boi dormir ou homens se acordarem.