ANJOS DE BARRO II
Poesia dedicada à Sandra Roos
Encontram-se um dia,
nos peregrinos momentos de outubro,
uma mãe, um filho, uma pérola,
uma lágrima e uma estrela.
Em latejos de emoção
Falou ufana a mãe,
Carregando o filho amado,
e os belos presentes ao lado:
Filho, dou a você a pérola,
na prova do meu amor;
dou-lhe a estrela cadente
para servir-lhe de guia;
Dou-lhe a lágrima,
trêmula, singela,
para o mapa do caminho...
Falou-lhe a estrela, bela,
diáfana e triunfante:
Desci das plagas celestes
sou bela e a mais alta do céu!
Trago a amplidão nos meus raios.
levo luzes firmes aos campos,
sou a criação deslumbrante,
do universo sideral...
Entre o céu e a terra
teço o brilho poderoso
E não tenho no piso do céu
os frios barros da terra...
Lá de cima, bem lá em cima,
ilumino este torrão...
E a pérola vaidosa e bela
retruca com precisão
na disputa dos valores:
Entre o céu e a terra,
- não passa de um resplendor!
Seu brilho perde o talento
na poeira do infinito...
A pérola garbosa argumenta ainda:
Vim dos mares e oceanos,
das profundezas do mar,
das correntezas imersas,
das ondas gigantes e belas
que surfei com garbo e fé.
Fui feita para brilhar
no colo de formosas rainhas,
e nas coroas dos soberanos,
com reflexos siderais...
Por ser o dono da pérola,
fama e glória levará!
Pequenina como sou
valho mais que mil estrelas,
Sou como a gota brilhante
da jóia mais preciosa,
não como os barros da terra...
Ponderou com mágoa a lágrima
-- No primado da emoção:
-- nasci do orvalho dos olhos,
rolei no leito das rugas,
e na face perfumada...
Não vivo no brilho da estrela,
ou no horizonte distante,
sou presença, força e fé
nas olheiras do universo.
Bailo no riso da brisa,
e no alívio da dor.
No desabafo do triste,
sou o antídoto, curador.
Procuro o espírito do mundo
Rolada, fria ou ousada,
escondo nas entranhas do riso,
ou na trilha vertical
.....................................................
Passaram-se os anos...
Mãe e filho se encontraram.
na estrela da manhã, um dia:
Com a pérola brilhante e fria
e com o sal que a lágrima trazia.
-- Estrela, indaga a mãe:
onde ficou o seu talento,
veja meu filho pequenino,
balançar seu corpo franzino,
na concha triste e vazia?
A estrela se escondeu na nuvem...
Seu brilho empalideceu...
No disfarce da jóia rara,
a pérola se emudeceu...
Desceu às profundezas dos mares,
contida no transe seu...
A lágrima, serena e mansa,
num gesto de extrema ternura,
encontrou no canto dos olhos,
o abrigo conhecido...
a cobrança cobiçada...
-- Meu filho é um anjo de barro, que toca bem o chão.
Sentado, corpinho torto, sem saber a razão...
A lágrima enternecida,
colou-se aos olhos solícitos
e na fala mais sentida,
embrulhou o presente seu:
-- Seu filho, Mãe, um Anjo de Barro,
é eterno e singular
Será, um dia, um estribilho,
na página universal.
Recolherá as avencas e as rosas do caminho,
regadas pelos seus olhos,
no seu trajeto de amor...
A mãe se calou, e a lágrima sorria...