Depois de amanhã

Até a lucidez tomar conta de nossos espíritos inquietos,

Até a sensatez fazer jus ao seu papel domador de rebeldias,

Beijaremos aqueles que não queremos para esquecer aqueles por quem esperamos,

Fingiremos-nos de caça para sermos caçadores implacáveis de ingênuos,

Repetiremos do alto de nossa frieza que é possível evitar a paixão,

Continuaremos exigindo grandes provas de amor a todo o momento,

Iludiremos-nos afirmando que a vida é comum e por isso nos basta,

Tentaremos ser “bonzinhos” aos olhos de um mundo de cobranças sem sentido,

Odiaremos a pessoa que não nos liga no dia seguinte sem esquecê-la,

Persistiremos na busca do entendimento da fala da raposa em Saint- Exupèrry,

Teimaremos no fato de não sermos valorizados por quem desejamos,

Continuaremos achando que os amigos sempre estarão ali à nossa espera...

Assim:

O tempo ainda será essa incógnita,

Os sonhos uma vontade de realização,

O beijo uma sensação de encontro,

As bocas um questionamento mudo.

Por isso:

Paralisia e TV alienante para esquecer,

Ou mangas arregaçadas para fazer acontecer...

Olhares e palavras se confundem na torrente de sentimentos e entendimentos.