Quimera

A lâmina corta.

Pela fenda escoa o sangue.

Impelidos pelo olhar

opõem uma resistência maior...

Abre caminho apressado.

Há um filete vermelho ainda colado

no aço do bisturi.

A imagem da carne cortada

revela o tecido filamentoso.

Sutil, mas nas palavras

há um grande segredo;

corre perigo a todo o momento...

Mira a ferida aberta,

a palidez do rosto excessiva

projeta a luz que ainda salta dos olhos.

Os joelhos se dobram

e num golpe se extinguem as forças.

Rasga-se o peito,

deixa-se cair num abismo profundo...

Há, talvez, alguma coisa que os atrai

nessa incerteza entre a vida e a morte.

Num segundo,

desprende-se das brumas do inconsciente,

iluminando a tez antes alva,

que vence a torrente das palavras desconexas

para não romper a cumplicidade.

Um vento de excitação os domina..

O ritmo incerto de uma dança improvisada

faz com que a dor ceda lugar à euforia

levando a linda imagem da criança

à desarmonia do mundo.

Houve uma profusão de detalhes

lançados de forma tão crua...

Avanço meus passos para amparar

a mulher-criança.

Sem hesitar ela se esforça

com as faces já ruborizadas

e aperta nos braços o fruto

que processa os seus sonhos...

bette vittorino
Enviado por bette vittorino em 11/09/2006
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