Vulnerabilidade

Fiquei sabendo que ela caiu. Estava indo devagar para a casa

Tomei um susto tão grande que meu estômago chegou a amargar a língua

Um refluxo violento esquentou minha laringe vermelha

E minha garganta fechou para o ar frio desse inverno.

Ela caiu e não soube o como e o porque

Sua caminhada ao chão foi longa e dolorosa

Não é bom quando os bons iniciam a caída

Lembro-me de espadas em crânios abertos no ar frio de inverno

O cair sempre é vergonhoso para o voyerismo social

O caído, e por vezes machucado, é tomado pela penumbra da vergonha

O sangue fica feroz nas veias e pequenos derrames cínicos invadem os olhos

A adrenalina auxilia, mas nada que esquente o ar frio desse inverno.

A senhora branquinha e linda caiu como uma pluma

Uma nuvem foi ao chão como uma pedra vulnerável

E sua agonia tremeu o meu espírito gelado

O medo da finitude é como a perda da pessoa amada no ar frio desse inverno.

Passou-me na mente seu semblante tranqüilo, alegre e suave

Escutei sua voz pausada, mansa e gentil

Ela faz falta em minha simples vida de ser humano

Sinto saudades do dia que andamos na praça em meio ao ar frio desse inverno.