ELA ME PEDIU UMA POESIA

Estou procurando em mim mas nao encontro palavras

Palavras? Ah...

Doces, quais a doçura que há em cada entardecer

Quando chove, quando os olhos se cansam

Quando as coisas fogem frágeis e silentes

Quando tramita o silêncio

Nas lacunas que de um pouco, o pensamento deixou

De uma lembrança afora sorrindo

De uma hora em que nada restou....

Quero uma poesia para ela

Quero um momento em que o instante deixa de ser instante

Em que o efêmero se torne eterno

Como a eternidade de um beijo que se dá numa elipse

Nos laços ciméreos e ciprestes da dor

A faca que levou-me os sentimentos

E o sangue que nela restou

Estou procurando uma palavra

Mas o silêncio me conduz flamejante

Principiando num surto adejante de luzes

Num brilho tão triste, tão belo

Ao olhar, teu olhar...

Que o infinito esconde calado

Que a andorinha canta numa fala de flor

Num eflúvio de raiva das rosas que chamam teu nome

Nos jaçanãs que aparecem no Céu

Tudo irreal e perdido

Perdido no Infinito etéreo e extático

Das nuvens que meu Deus me brindou

Onde estão as estrelas e a Lua cheia

Onde estão as pegadas na areia

Onde está a princesa sereia

Que abrolha num manto incolor?

Digo à palavra ternura calado

Que se foi um amante um amor

Que toda a beleza se esparge naquele sangue

No ebúrneo da tarde que se propaga quietamente

no ocaso fagueiro dos dias da primavera

Nos dias do outono e de um outro depois

Aquiescendo-me no Inverno fogoso das vaidades

Dos amores insólitos e sem pudor

Ah! Se eu fosse como a palavra ternura

Teria sete letras e nao me chamaria amor

Eu só diria que sou louco um pouco

Que estou doente e um pouco rouco

E por isso palavras são difíceis

Pois pediu-me ela uma poesia

Talvez ela queira realmente um ator

Mas então eu morreria contrafeito em verdades

E minhas oblações seriam ouvidas...

Sob um iris enfadado

A poesia veste seu manto

Seu manto de dor

E por que se preocupa ainda?

Olha em teu rosto quão belo sorriso

Talvez eu fingisse, mas finjo ser triste...

Pois sou um ator

Finjo ser dor

Por que te preocupas?

Ah! Talvez por causa de toda nostalgia

Nem é noite nem dia ainda

Deixa pra lá, que direi?

Direi que me pediu, me pediu uma poesia...

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jairomellis
Enviado por jairomellis em 08/07/2010
Código do texto: T2366060
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