MEUS VERSOS IMPERFEITOS PARA TUA PERFEIÇÃO
Você vive em sedas
Tem sapatos finos
Comanda
Tem regalias
Eu vivo de danos
Parcos panos
Orgias
Você tem mil letras
Sonetos
Magias
Aponta para os melhores
Os finos, de bons tratos
Os poetas de versos certos
Para sua posse
Para suas fodas
E descarta outros
Com classe
Ou chutando pro alto
Na ponta do salto
E ri seu riso matreiro
Rampeiro
Eu ando no presponto
Faço versos tortos
Piso no lodo, no esgoto
Maroto
Nas letras trocadas
Misturadas
Carrego casos e distrações
Ando com vadias da esquina
E bebo em seus copos
Mato a minha sede
Beijo todas as bocas
Da louca e da tímida
Escrevo todas as cantigas
Com as novas
As antigas
As amigas
Inimigas
Com qualquer vagabunda
Caminho pelos vãos e desvios
Te buscando em cada momento
Entretanto
Nós dois
Partilhamos nossos mundos
Os fundos
Os espaços vagos entre as letras
Vivemos entrelinhas
Tretas
Levantamos as tempestades
No meu ateísmo
Na sua fé
Tarde e cedo
Cruzamos nossa manhas
Nossas manhãs
Artimanhas e venenos
Caminhos
Carinhos
Vivemos tanto e tão pouco
E nunca o suficiente
O teu talhe me domina
Teu cheiro
Tua elegância
Me atraem a ganância
Fazem meu canalha acesso
Atravessam minha caminhada de suor e despudor
Meu jeito brusco
Bandido
Da favela que trago no sangue
Por isso preciso da tua senha secreta
Para saltar
Pular
Sair de lá
E rolar ladeira acima no seu mundo
Me dar
Enfim
Ter você que espreito em desalinhos e desatinos
Quando perde a compostura
Ameaça
Rasga o verbo e a seda
Desaparece
Reaparece
E ofeta seu melhor
Seu amor aos mendigos
Você continua com seus bons panos
E eu só tenho uma calça jeans rasgada
Uma camiseta branca e palavras velhas
Que remendo refaço desfaço e dou novos sentidos
Montagens no meu quebra-cabeças-poema
Reescrevo sempre o mesmo samba
Dançando com minha sandália de couro batido
Só altero o verbo e a paisagem
Mudo a mulher
Escolho a que me escolhe
Mas por dentro tudo é ferrugem
Armo um jogo de sedução fácil
De vadias que precisam de alegria
De vagabundas que se entregam
De graça
Quase sempre sem graça
Uma desgraça
Só um jeito pra ter inspiração
Publicar uns versos
Matar o tempo
Sei que te preciso para fincar no teu chão forte
E ancorar no teu cais ou no caos
Da tua escuna de sofisticação
Na tua canção de felicidade mais escondida
E me dedicar aos teus versos honestos
Ser mais decente
Deixar de ser canalha
De fazer bandalha
De enganar e me enganar
Pra poder te tar em troca
Um poema ereto
O meu eu escondido
Meu eu inteiro
Verdadeiro
Meu antes durante e depois
Te levar para meu barraco
Ou ir pra tua cobertura
Tua cama de seda pura
Nos teus lençóis de cetim
E te falar de amor
Daquele que já te falei antes
Que já te dei antes
E que é só teu
Para sempre