Abro a janela, o sol já nasceu;
E já se encaminha ao apogeu,
Seu brilho tortura os olhos que deus me deu,
Cego; faço proclamo a Orfeu.
Rogo-lhe por musica que me guie,
E teço o verso!
Ponho meus óculos escuros
E o quadro se completa reverso!
Sou cego de nascença e de crença.
Na poesia não encontrarás solução
Pessoa já o disse: Na poesia o fingidor!
Mas não me queixo.
Cego não reclama do que não vê
Tateia entre outros cegos e vai completar a lida
E célere meu ânimo...
A janela é só um espaço, por onde entra o vento
Vento que não sinto e nem vejo,
Agora percebo além de cego, sou surdo- mudo!
O relógio... Litigioso companheiro
É parceiro confiável e me instiga a luta
Correr atrás, empreender, lutar pela vida!
Minha opinião é a de todos os outros cegos
Esta na revista semanal que li;
Aquela que me convida
A ter opinião e viver desta satisfação
De opinar de nada para o nada
Meio dia o sol se inclina ao poente
Tristeza me envolve, não posso mudar o imutável
Meio de semana, o convite é ambivalente
Amanha outro dia, certeza imponderável!