A minha vida...

...passei

a vida criando risos

e criando moinhos para lutar

quixotescos moinhos empoeirados

embaixo das pedras os vermes rolam e escondem

a podridão da carne no ventre avantajado

os soldados iam e vinham

nos caminhos pedregosos da terra árida

como o rosto enrugado da velha senhora

Carmem, e seu lenço de sempre-vivas

róseas, pálidas ao luar

outono sem chuva

de queimadas no horizonte

fogo que castiga a terra.

...passei

a vida escondendo o pranto

no cofre que carrego no peito

medalha antiga de prata

leva a esfinge da rainha

usurpadora da vida

caravelas carregam a morte

no entanto, o vento as conduz

praias vestidas de branco

por pouco tempo

cabeças rolam, corpos sangram.

...passei

a vida rogando pela fé

a recompensa veio

as andorinhas foram e voltaram

e Vênus as guia na noite

e assim o bafo da morte

retumba no seio virginal

diáfano e erotizado

ali a semente

brota!