SONETO A UM AMOR NÃO CORRESPONDIDO

A Josué de Castro

De um povo que esquece ou que soube e esqueceu
Eu lembro Josué de Castro que aqui viveu,
Falou e disse, da fome e do esquecido povo, que fenece e feneceu
E que ainda permanece povo brasileiro, Povo plebeu.

Josué. Na minha escola eu nada de vosmicê ouvi ou aprendi,
Soube da tua intelectualidade por ouvir dizer, e me arrependi
De nascer no ano que fecharam o pano e nada mais compreendi,
Ensinaram-me; sobre os generais e sobre os rivais da nação, e eu me iludi

Por certos tempos fui menino; brinquei, papariquei sonhos e esqueci!
Tornei-me moço e descobri Guevara, Mao, Fidel. E. Sorri!
Acreditei que o mundo de lá, aqui se faria e que porcaria. Padeci!

E assim é Josué. O mundo mudou ou eu me mudei?
A fome ainda come o seu prato bem servido e eu ensopei
O pão e a banana na minha vergonha e encerrei.








* Josué de Castro é uma destas figuras marcantes de cientista que teve uma profunda influência na vida nacional e grande projeção internacional nos anos que decorreram entre 1930 e 1973. Ele dedicou o melhor de seu tempo e de seu talento para chamar a atenção para o problema da fome e da miséria que assolavam e que, infelizmente ainda assolam o mundo.
Nascido no Recife e graduado em medicina pela Universidade do Brasil em 1929, hoje Universidade Federal do Rio de Janeiro, logo nos primeiros anos de formado, entendeu que “a fome” estava presente na vida de grande parte da população brasileira.
Crítico das especializações, seu trabalho científico foi marcado pela multidisciplinaridade. E a fome foi sua principal e corajosa escolha. Mas além da fome, também estudou questões de interesse global que lhe são relacionadas, como o meio ambiente, o subdesenvolvimento e a paz. Após uma longa carreira de êxitos científicos, Josué de Castro teve seus direitos políticos cassados pelo regime militar que dominou o País a partir de 1964. Exilou-se em Paris onde passou a lecionar na Sorbonne, e onde morreu em 1973, sem ter voltado vivo ao seu País. Morreu sem mesmo ter recebido oficialmente e nominalmente anistia.
O cidadão do mundo Josué de Castro não viveu para ver restabelecido sua condição de cidadão brasileiro.
Olimpio de Roseh
Enviado por Olimpio de Roseh em 21/06/2010
Código do texto: T2333297
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