Rua deserta
Eu sou tal qual rua deserta à espera dos seus moradores...
Eu sou o silêncio da noite, esperando toda aurora cessar
Ouço essa voz quanto canto assentado sobre o chão
Quando amanhece o dia e a chuva sopra em mim
Vejo um pássaro vermelho assim frustrado,
Um olhar de prostração...
Por que não canta, tão belo pássaro, e sobe até o extremo do céu?
As estrelas já se foram, e o Luar já feneceu
Quando as águas sopram as pedras caídas no esgoto do meu peito,
Eu sorrio triste e me levanto, procurando-me a atenção
Quando nossas almas se encontram...
Há um calar-se póético e sorriem os nossos olhos
Eu te vi, te vi caminhando num vagar repentino, que surgiu à minha vista
E não sabia mais quem era, onde estava...
E trazias consigo a elipse do Universo, o sorriso mais bonito
E teu periélio era a ruazinha deserta, por onde caminhavas...
Não! Não!
Vejo um pássaro vermelho assim frustrado,
Um olhar de prostração
Que será isso?
Respondeu-me o silêncio: “Seria acaso a paixão?”
Os meus olhos estão já mudos
Os meus braços estão presos ao corpo
Minha voz embargada de ternura
E em meu peito como num abrolhar-se de contente
Flamejam as batidas que recumbem no silêncio
Extático, e também paradoxal do coração
Naquela rua deserta, os teus passos tão desertos...
O teu olhar tão incerto...
Anda por caminhos que desconheces
Só para encontrar-me, segredados nesta razão
Eu te peço desculpas, pois meus passos caminham
Não obedecem minhas mãos trêmulas, minha voz
Que mesmo calada estremece em ternura
Nossos olhos tão calados, dizem coisas inefáveis
Nossos sorrisos avençados traduzem toda a emoção
A chuva cai forte em nossos corpos molhados
Te abraço como a quem abraça a eternidade
No teu silêncio etéreo, no teu calar-se em mistério
Os teus olhos procuram os meus
Os meus lábios procuram os teus
E mergulhados em pensamentos e fantasias
Nos beijamos pela primeira vez....
Ali naquela rua deserta...
Sem dizer uma única palavra
Apenas as palavras que encantam os olhos
Quando grita em nossos ouvidos
A mais terna e meiga voz
A voz de um coral silencioso e extático
As vozes dos nossos corações...
Vejo um pássaro vermelho assim frustrado,
Um olhar de prostração...
Por que não canta, tão belo pássaro, e sobe até o extremo do céu?