Redondel
Quando a vida se apura e começa
A querer vencer o tempo e correr mais
Menos espigas dão os milharais.
Quanto menos a vida se ansia e tem pressa
E caminha no passo do sol sem pedir meça
Mais ligeiro se cumpre o que há de cumprir
Depois de o sol pontualmente sumir
E os pesadelos mais medonhos
Quando a vigília atrasada resolver dormir
Na loucura adiantada dos sonhos
Que a corda toda vai consumir
Da mola exata da vida
Até a última espiral distendida
Anunciando o segundo de partir
No rumo da volta e ir
Desde o fim para o recomeçar
E se o medo for grande de voltar
Que se saiba que quando o Amor é maior
Como não sabem os ponteiros
Não há porque temer o retornar.
Como faz sempre a primavera
Que rebenta em vida após o inverno
E sem medo do calor do inferno
Do verão, atira flores para a fera
Mesmo sabendo que ele espera
Para, vampiro, com sua boca ardente
Secá-las da raiz à semente
Mas o outono vai ressuscitá-las
Unidas à vida das folhas defuntas
Que se suicidam para renascerem juntas
Às flores redivivas da esperança, sem perguntas...
Amarelas, como os pendões dos teus cabelos Trigais
Ruivas como os teus pêlos milharais
E negras como o rímel das molduras juntas
Dos teus olhos, lisos como a tua pele quando te untas
Da Alma da Macadâmia para diminuir o atrito
E aumentar o nosso silenciosos grito
Quando matarmos os nossos pesadelos
Ao nos utilizarmos, como os camelos
Do nosso reservado Amor, que é infinito..
E se soltam os brotos dos novos segundos
Para rejuntar o que separaram
Esses que pensaram
Os ponteiros morimundos
Que há um só tempo para os vários mundos
Esses que aprenderam apenas a formular
A definir e enquadrar
Sem saber que o tempo e a vida
São feitos do movimentar...
Que Amor que morre, nunca foi Amar...