Retrato
Te lendo em preto e branco,
uma foto, um momento fixo no rápido obturador.
Teus cabelos soltos deixam soltos sentimentos antigos e tantos,
mexidos, remexem a alma e a fazem mergulhar no emaranhado que é a vida e a sua dor.
Teus olhos, caidos, fixos ao chão como se a olhar para a vida
que livre e moleca se coloca aos teus pés,
teus olhos enganam, teus olhos dizem verdades, teus olhos choram no íntimo a cada lida
como se não soubesses que a vida aos prantos e abaixo te pertence, por saber quem és.
Tua boca muda como que a pensar no que dizer.
Tua alma me diz mais, teu pensamento me fala mais alto e mais claro.
Tua imagem me enobrece, porque nobre é a alma do poeta em seu ser,
esta pobre alma que aqui se revela, não mais que a foto em preto e branco
dessa que é, de todas, a mais bela e de quem falo.
Pego a minha pena e que pena eu não estar contigo...
de resto, me sobrou a imagem que guardo como quem guarda a vida do rei.
A tua face por completo me exprime um sentimento por derradeiro:
não sei o teu paradeiro, mas sinto que te tenho, ainda que não por inteiro.