Teatro...

Está aí! Ansioso eu procurei por ti

como um beija-flor procura flores,

como sombra que, cegada pela luz,

tenta vestir-se de renovadas cores

que a escuridão sempre esconde...

Mas tu és a voz que não responde,

linda flor que ignora o colibri,

aquele que recebeu por sina e cruz,

trazer-te amor e vida, em beijos.

Está aí! Trouxe-te o mesmo amor

que devolveu Ulisses a Penélope

e que por cruel desígnio mágico

fez perder-se Romeu de Julieta

na diferença de um minuto trágico.

Não trouxe os abraços da tragédia

e nem mesmo as figuras da comédia

impressas nas cortinas do cenário.

São minhas vidas de tantas lendas

ao longo de muitos anos e calendas;

meu mundo real, em tempo imaginário.

Atrás dessa cortina que se fecha

ainda sou o arqueiro e sou a flecha

porem resta-me apenas sair depressa.

Se nunca pude ser teu protagonista

provei as mazelas de autor da peça

embevecido em meu insistente amor.

Não sou Montechio e nem Capuletto;

porem entre as subtrações e somas,

cultivo a reles face de Rigoletto.

Afinal, por quem é que tu me tomas?

Não sou o louco Otelo que duvida,

eu busco os meus caminhos de vida

porque isso é que faz a diferença.

Talvez tu não consigas percebê-la;

és tão brilhante e és tão estrela!

Mas por isso, amor, agora, noite alta,

quando as luzes desmaiam na ribalta,

que o soberbo espetáculo anuncia fim,

eu, o fiel espectador solitário e mudo

que só fiquei para te tornar verdade

debaixo de meu chapéu e do sobretudo,

como um espectro de antiguidade morta

vou passar vagarosamente pela porta

e perder-me pra sempre na eternidade.

Figurante apenas. Sem ti...sem mim...

Joscarlo
Enviado por Joscarlo em 13/06/2010
Reeditado em 13/06/2010
Código do texto: T2316991