Teatro...
Está aí! Ansioso eu procurei por ti
como um beija-flor procura flores,
como sombra que, cegada pela luz,
tenta vestir-se de renovadas cores
que a escuridão sempre esconde...
Mas tu és a voz que não responde,
linda flor que ignora o colibri,
aquele que recebeu por sina e cruz,
trazer-te amor e vida, em beijos.
Está aí! Trouxe-te o mesmo amor
que devolveu Ulisses a Penélope
e que por cruel desígnio mágico
fez perder-se Romeu de Julieta
na diferença de um minuto trágico.
Não trouxe os abraços da tragédia
e nem mesmo as figuras da comédia
impressas nas cortinas do cenário.
São minhas vidas de tantas lendas
ao longo de muitos anos e calendas;
meu mundo real, em tempo imaginário.
Atrás dessa cortina que se fecha
ainda sou o arqueiro e sou a flecha
porem resta-me apenas sair depressa.
Se nunca pude ser teu protagonista
provei as mazelas de autor da peça
embevecido em meu insistente amor.
Não sou Montechio e nem Capuletto;
porem entre as subtrações e somas,
cultivo a reles face de Rigoletto.
Afinal, por quem é que tu me tomas?
Não sou o louco Otelo que duvida,
eu busco os meus caminhos de vida
porque isso é que faz a diferença.
Talvez tu não consigas percebê-la;
és tão brilhante e és tão estrela!
Mas por isso, amor, agora, noite alta,
quando as luzes desmaiam na ribalta,
que o soberbo espetáculo anuncia fim,
eu, o fiel espectador solitário e mudo
que só fiquei para te tornar verdade
debaixo de meu chapéu e do sobretudo,
como um espectro de antiguidade morta
vou passar vagarosamente pela porta
e perder-me pra sempre na eternidade.
Figurante apenas. Sem ti...sem mim...