Folhas e Flores...
Eu percebo com ledo espanto,
que eu te amei tanto e tanto,
que quase me perdi de mim
embora o sabor desse veneno
que sobrou na minha boca
parecendo jamais ter fim,
me deixasse impregnado,
tornando a voz breve e rouca
e o coração pobre e pequeno
sabendo que soube errado.
Mas ficam, em meio ao perfume
exalado algures por tantas flores
no significado de tantos amores
que meu entendimento cobra
o mesmo veneno de meu ciúme;
e no desânimo de minha vida
e na vida que ainda me sobra;
as lembranças do que já pude.
Ainda trago as luzes dos anos
na ilusão pouca de juventude...
Esqueci, porém, alguns enganos
com os desenganos que olvidei;
as muitas coisas qu’eu aprendi
todas aquelas que eu não sei
e tantas e quantas já esqueci.
É que, a ilusão é bela e doce
tão simples de se crer nela !
E é como olhar pela janela,
para saudar um sol nascente
com a lembrança do poente
que ocorreu ainda ontem.
E, mesmo que assim não fosse
por mais que as flores contem
o que parece verdade dura,
aprendi que o sabor do nada
se não é a verdade garantida
é toda a lembrança resguardada
sombra atraente de verdade pura;
mentira oculta de qualquer vida...
Porque o mundo das evasivas
repleto de caminhos e portas
sempre coloca folhagens vivas
no lugar das folhas mortas...