Devaneios...
Como nos campos incultos
que exibem tantas flores,
talvez a força de mil amores
não mostre os desejos ocultos.
E entretanto esses desejos
são as minhas sombras d’alma
que quando a noite se acalma
ocorrem tornar-se beijos...
Como suave toque no veludo
macio e leve de teu ventre,
um rastro deixado no relvado
onde tua atraente flor do prado
nunca admite que eu entre;
vence-me a voz, torna-me mudo...
Quando toda a força me impele;
quando todo o meu sangue aflui,
há um refluxo que se dilui
na úmida turgidez de tua pele:
é minha busca que não termina;
mas que atrai, envolve; excita,
que me devolve, esquece e evita
se tua semente nunca germina...
E não obstante, não esqueço,
mesmo em um segundo perdido
quando meu sonho é devolvido
submetido a mais um tropeço...
E em tons suaves de azul e mel
só devaneios e sonho improvável
porque tua voz em tom amável
cerrou-me as portas do céu...
E aí, eu sou o dono do impasse
imaginando o que podia advir
já que tua voz só se fez ouvir,
para impedir que eu passasse...
Mas quando a desilusão livre passeia
pela longa linha ausente de magia
de tanta mágoa tão repleta e cheia,
um murmúrio teu renova a esperança;
faz-me homem com jeito de criança
aprendendo enfim, como viver poesia...