Pétalas de fogo

Indelével é-me um sentimento

Que me transporta pro mundo dos vivos;

Se traz tormento – meu amor: contento!

Mas teu desdém nos olhos vão cativos...

Um dia pensará naquela noite

Em que meus lábios vi fitar os seus,

Sentirá a boca seca num açoite;

Lamentará o nosso curto adeus.

Irá chorar por não ser a minha amada,

E então chorosa lembrará a despedida,

Saberá que meu amor não é mais nada

E assim tão tarde, estarás arrependida.

Tentará abraçar-me em desespero

E eu a evitarei tão friamente

Que me largará primeiro

Mesmo que me ame loucamente...

Não restará nenhuma lágrima perdida,

Que o caminho esquecido dos meus passos

Não possa ter secado de tão lassos

Os olhos meus tão tristes desta vida.

Terás medo de amar-me um dia,

Pois, em cada gesto teu terei frieza

Ao teu amor com ódio na certeza

Tão tamanha que será em covardia...

Terás a ânsia de tocar meu rosto

Quando um dia quis tocar o seu...

Direi que em paixão só fui suposto

E que nada em você me apeteceu!

Como um delírio simbiótico, tão vago!

Meu corpo morreu com o seu,

Meu ódio inerte, então, divago

A indiferença verossímil se estendeu...

Quando eu tentei beijar a flor amada

Tentei pedir esperança com um rogo,

E com falsídias vi desentranhada

Já tão defesa em pétalas de fogo!

Lamphard
Enviado por Lamphard em 09/06/2010
Código do texto: T2310127
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