Pétalas de fogo
Indelével é-me um sentimento
Que me transporta pro mundo dos vivos;
Se traz tormento – meu amor: contento!
Mas teu desdém nos olhos vão cativos...
Um dia pensará naquela noite
Em que meus lábios vi fitar os seus,
Sentirá a boca seca num açoite;
Lamentará o nosso curto adeus.
Irá chorar por não ser a minha amada,
E então chorosa lembrará a despedida,
Saberá que meu amor não é mais nada
E assim tão tarde, estarás arrependida.
Tentará abraçar-me em desespero
E eu a evitarei tão friamente
Que me largará primeiro
Mesmo que me ame loucamente...
Não restará nenhuma lágrima perdida,
Que o caminho esquecido dos meus passos
Não possa ter secado de tão lassos
Os olhos meus tão tristes desta vida.
Terás medo de amar-me um dia,
Pois, em cada gesto teu terei frieza
Ao teu amor com ódio na certeza
Tão tamanha que será em covardia...
Terás a ânsia de tocar meu rosto
Quando um dia quis tocar o seu...
Direi que em paixão só fui suposto
E que nada em você me apeteceu!
Como um delírio simbiótico, tão vago!
Meu corpo morreu com o seu,
Meu ódio inerte, então, divago
A indiferença verossímil se estendeu...
Quando eu tentei beijar a flor amada
Tentei pedir esperança com um rogo,
E com falsídias vi desentranhada
Já tão defesa em pétalas de fogo!