Naufrágio
No fundo do lago de teus olhos não há mais estrelas; perderam-se de nós, desgarradas.
Nossas canções de amor seguiram rotas suicidas, roucos protestos selaram teus lábios.
O rubro batom a esconder o teu desgosto; uma gota de sal posta na lápide dos sábios.
Insólitos torpedos afundam a nau de Teseu; homem ao mar em negras noites geladas.
Meu amor: podes privar-me de tudo; de teus beijos, teu cheiro, até de teu corpo, priva-me se quiseres.
Mas não vás agir como certas mulheres; mesmo em teus piores momentos não me negues o bálsamo de tua voz.
Eu não o suportaria, posto que sou nutrido por ela como uma criança de colo. Não cometas então esse dolo – faça isso por nós.
Ouvir tua voz é minha âncora nesta vida tão desarrumada. Ao negar tua voz deixas-me sem Oriente - e sei bem que não é isto que queres.
Quando a Tristeza chegar busque outras armas no armário, não emudeças jamais – esse tipo de greve é inaceitável.
Quando assim te farejo em copas também eu me fecho, entrincheiro-me em monossílabos, a tudo coloco na lupa.
As cores me vêm desmaiadas, as perspectivas em nuvens escuras, os sonhos aves engaioladas, as dúvidas em catadupas.
Por não te ouvir também eu me calo; já mais não falo do ruído da chuva, nem dos sonhos que juntos sonhamos: pedir então prá que fales, amor, é inevitável.
A voz da mulher que amo tem para mim o condão de me fortalecer, de me fazer gostar de viver. Quando a voz dela me falta tudo em volta entra em cheque. Então eu recolho as minhas velas para que a minha nau não vá a pique.
Terra dos sonhos, noite de Sexta-Feira, início de Junho de 2010
João Bosco