MINHA NAMORADA

A minha namorada

Tem nos olhos sorrisos,

Nos lábios um azul,

Nos cabelos flores brancas

E pensamentos avulsos.

Nos seios tem sutiãs

Soltos,

Nos ombros,

Alças brancas

De um desejo que se revela pagão

E me convida pro batismo de fogo.

Tem no ventre

Uma dança livre

E uma renda

Bordada à mão

Com entrelinhas maliciosas.

Tem entre as pernas

Um vão livre arquitetônico

Onde cabem entradas

E saídas

Nunca antes desenhadas,

Nunca antes projetadas.

As mãos são carícias

Que o tempo não impede

E a vida não proíbe.

E quando

suas

mãos

Alternam-se

em

Cume

e

Alicerce

Seu

corpo

ganha

Graça:

Um edifício;

O mais alto da cidade.

Quando nua se deita

O ambiente em volta desaparece

E a lua passa a ser do tamanho

de uma bolinha de gude

feita de aço inoxidável.

Seu sono invade o corpo:

Dormem cabeça e tronco e membros

E dorme a alma

E dormem os lençóis e as colchas.

Se olha,

Olha longe,

Olha perto,

Olha no olho,

E nos olhos se lê

Todo o seu desejo,

Que nunca foi secreto,

Mas que sempre esconde de mim

E eu sempre descubro.

E, olhando,

Deixa-se possuir

E possui

Nas horas normais

E nas extras,

Exaurindo-se

Em pêlos ouriçados

E peles em chamas.

Depois desperta,

Mas permanece sonhos

Que nunca se esvaem,

Que nunca se realizam.

E há tantos cabelos em sua nuca

Que nunca se esgotam,

Nem mesmo quando o vento lhe arranca desatavios.

E em seu corpo

Há tantos pêlos transparentes

Que o corpo se multiplica

em milhões de outros corpos

transluzentes.

Os cabelos caídos sobre os seios

São cascatas e cachoeiras

E quedas de brilhos,

Que refrescam os olhos de quem vê

E a boca de quem prova.

A silhueta se faz majestade:

Turbilhão de onde saem magias

E entram intenções;

E se seu braço abraça o seio

No seio da luz que a ilumina alucinada

Ela vira espírito,

Sopro,

Fada,

Fantasia...

Seu perfil é montanha selvagem,

Abismos íngremes,

Vácuos inexploráveis.

Os poros criam erupções

Por onde saem salsas-ardentes

E purezas inesgotáveis.

Suas curvas desdobram-se em perspectivas

Que vão de um tornozelo a outro,

De um bico a outro,

Por onde andam bondinhos de pão e de açúcar.

Seus arrepios esboçam suas nádegas

Em duas partes simetricamente arredondadas,

Simetricamente saborosas:

Perdição de caminhos

Nas curvas sinuosas,

Nos horizontes de delicadezas.

Tudo nela não faz sentido.

E tudo é tão preciso.

É poesia que escorre pelo corpo

Sem rimas,

Sem curso,

Sem trilho,

Sem guias,

Sem limites,

Ela é minha namorada.