Semáforo vermelho
Frutos do dom, da árvore que viceja,
A poesia busca no leito,
A forma exata do pretenso poeta,
Que vê na nuvem de papéis picados,
Voando pelo espaço, a junção,
O contexto irônico de alguma prosa,
Reformulando seus papéis,
Despindo seu interior, tantas e tantas vezes,
Várias despidas, nuas sob o alento,
Usufruindo todo o encantamento,
Na crucificada magia de ser poeta,
Dor que dilacera em pautas,
Cruas, amargas dos seus subúrbios,
Quase sempre indevassáveis.
E quando a luz tomba no poente,
Refletindo os raios derradeiros,
No trigal dourado dos cabelos dela,
A poesia derrama versos,
Marejando seu lago azul,
Suando seu corpo que rabisco em linhas,
Recrutando todo o vocabulário,
É uma estória, em um estuário,
Firme propósito de amor,
Mesmo que a faça em duros azuis,
Negando timidamente a veracidade,
Sua tez morena embutida no olhar verde,
Nas avenidas proibidas do corpo.
Mas, enfim, tudo é poético,
Até mesmo a saudade que vem e fica,
Mora para me encontrar amanhã,
Na sempre noite que há de vir.