Pecado Original.

É um rufar circunspecto e grave

nas poderosas asas dessa ave;

um falcão que plana e desce

sobre os ombros do menino

como se a bênção do peregrino

fosse uma luz do infinito

incidente ao pé do monólito

de minha figura vã...

Eu recordo,a serpente e a maçã

e, como esse Adão do Paraíso,

esqueço a prudência e piso

sobre a cauda peçonhenta

que se curva e se arrebenta

sob o meu peso descalço...

E a sombra do cadafalso

é mulher desnuda e linda,

desgraça atraente e benvinda

como a própria sedução;

forçando o voo do falcão

porque já sabia da escolha,

enquanto despia a folha...

Como é doce o despertar!

Pisar no solo do planeta

recém-chegado num cometa,

sentir o sangue nas células

e o luzir de luzes cérulas,

antecipando a hora do amor!

Mas a opção foi pela dor

e o meu corpo forasteiro

é outro falcão aventureiro

que se reduz ao ciúme...

Com um rastro de perfume

Eva transformou-se em Medéia;

pra despertar afinal a idéia

de que agora eu sou um homem,

e, enquanto os anos se consomem,

eu vivo o sonho do arcanjo

que desistiu de ser anjo

sem uma dúvida sequer,

só para provar da mulher...

Joscarlo
Enviado por Joscarlo em 01/06/2010
Código do texto: T2293310