Delírio
Não sabemos quem somos nós,
Nós quando o coral explode,
Grito pelo mundo que não responde.
Já não somos nós,
Nós os afeitos, delegados do bem,
Quando ruídos consomem o silêncio.
Não somos, nem fomos
Os penhores da pilhagem,
Flutuamos no azul
Nas balsas celestiais
Enquanto a vida correu corrupta.
Sabemos que não fomos,
Visíveis lustres, luminárias da escuridão,
Raiamos pela aurora,
Não entendemos o que a noite fez.
Nós, não somos mais,
Manchetes de jornais
O amor em defasagem
Ampliou, inflacionou a biologia,
Sintetizamos o prazer,
Máquinas ocupam o beijo,
E nós, nós caímos nos terremotos,
Trememos na poluição sonora.
Já não há encontros,
As paralelas seguem o espaço,
Nada, são vazias, as estrelas cintilam,
E que cinza é este respondendo,
Em gritos nos azuis inexistentes?
Ah, computação de prazeres,
Programação dos poemas
Onde nós ficamos impotentes
Perdulários humanistas rebuscando a sensibilidade,
Digitadas nas máquinas
No pulso deste coração.