PEDRAS AZUIS

PEDRAS AZUIS

A minha atitude incompreensiva de viver

Está no inconformismo da banalidade do outro

Porque ter crido no outro que não reza na mesma língua

A não ser o terço do desejo; o meu, acrescido de amor

Estavas tão longe na minha memória

Resgatei prodigiosa a nossa estória

Tão languida, com rosas, perfumes

Mas a intervenção da maldade, da posse arrebatadora

Perdemos-nos nos fios dos anos e descemos ladeiras

E lá nos buscamos sem nome e sem rosto

Subimos escadas em piedade aos demais, aos outros

Esquecemos de nós mesmos tantas vezes

Prosseguimos as missões das espirais dos sonhos

Andei sobre pedras azuis de veludo macio

Sobre as pontas das estrelas em fogo

Ilesos pés meus para continuação da vida

Porque me procuraste se ainda estavas amedrontado

Pela faca do poder, da posse insana,

do receio que ainda detinha-lhe?

Não havia nada para recomeçar uma linda estória

Um pobre Cavaleiro sem espada, preso a Louca

Se a outra lenda o fazia refém com seus próprios erros

Não podias enxergar meus seios como outrora

Para me morder outra vez a carne de meu coração

Não tinhas o direito de atravessar o longe, sem norte

adentrou a minha casa sem licença, desmedida invasão

insultos ao âmago do mais nobre sentimento

Não sabias a razão do querer absoluto de minhas entranhas

Apossando-se dos meus contados dias onde eu estava em alegria

O sofrimento ali já era o bastante

reconstrução pedra sobre pedra

Das desilusões reerguendo minha casa forte

Não deveria haver o uso de mim para doentio poder

Para o domínio do sozinho e da mente desesperada

Do gerar sobrevivência com suor alheio, uma Soberba

Para sanar as delícias de se achar vencedora

Não pelo amor por amor, mas sim escravizá-lo

Sinto raiva, muita raiva por amá-lo

Um ódio do próprio amor que estava no limbo

Havia já uma viuvez tamanha dentro de mim

Seguir no ostracismo e no convívio do laço em família

na crença de um bom destino, sem mais ferir-me

Julga-se ser um condenado, olhas para trás de si

Seus erros foram chegar na hora errada,

Nos caminhos de outras vidas como sombra

ainda estavas frágil, em caos banal

Julga-se um errante, um prejudicado eterno

Creio no abuso desmedido dos loucos à sua alma

Não sabes o que é abortar, morrer em sonhos

E seguir a estrada sólida e intocável

Lutar aos arrepios dos seios, pontas dos pés

Cabeça erguida, hoje, um coração de volta a dor

E sorriso nos lábios, olhos fixos no amanhã

Indagar a distancia, sentir raiva, muita raiva

ódio desse meu coração que você ainda sobrevive

A evolução é presente e se cumpre nas burras

pés sobre o fogo nessa inquietude de amor

Porque as pedras são azuis em veludo macio

E no caminho é preciso sempre mãos vazias

Cíntia Thomé

Cíntia Thomé
Enviado por Cíntia Thomé em 30/05/2010
Código do texto: T2288677
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