Outros tempos
Houve um tempo em que o tempo era precioso. As horas corriam rápido demais, os dias escoavam sem se fazer notar. O amor fluia e eu nem sentia a noite chegar, a noite passar, o dia voltar, o dia morrer. Eu só sabia amar, e só pensava em amar, e só queria amar, e só podia amar. Houve um tempo em que o tempo não contava realmente. Segundos, minutos, horas - nada havia. Só o teu corpo. Só a tua voz. Só o teu cheiro. Só o silêncio quando encostavas teus lábios na minha nuca (e ali fazia teu pouso). O dia podia virar chumbo, noite escura, tanto fazia. Eu podia me perder no teu colo, esquecer do futuro, do passado, de tudo. Naqueles tempos, eu não queria nada mais da vida do que acordar ao teu lado todos o dias - podia até morrer de amor, tanto fazia, desde que morresses comigo. Era amor demais, eu deveria desconfiar. Me consumia, me pervertia, me perdia. E me perdi nesse lugar incomum de um amor urgente, mas inconstante, errante, errado.