Se se Morre de Amor!

Se se morre de amor! — Não, não se morre,

Quando é fascinação que nos surpreende

De ruidoso sarau entre os festejos;

Quando luzes, calor, orquestra e flores

Assomos de prazer nos raiam n'alma,

Que embelezada e solta em tal ambiente

No que ouve, e no que vê prazer alcança!

(...)

Amor é vida; é ter constantemente

Alma, sentidos, coração — abertos,

Ao grande, ao belo; é ser capaz d'extremos,

D'altas virtudes, té capaz de crimes!

Compr'ender o infinito, a imensidade,

E a natureza e Deus; gostar dos campos,

D'aves, flores, murmúrios solitários;

Buscar tristeza, a soledade, o ermo,

E ter o coração em riso e festa;

E à branda festa, ao riso da nossa alma

Fontes de pranto intercalar sem custo

Conhecer o prazer e a desventura

No mesmo tempo, e ser no mesmo ponto

O ditoso, o misérrimo dos entes:

Isso é amor, e desse amor se morre!

Amar, e não saber, não ter coragem

Para dizer que amor que em nós sentimos;

Temer qu'olhos profanos nos devassem

O templo, onde a melhor porção da vida

Se concentra; onde avaros recatamos

Essa fonte de amor, esses tesouros

Inesgotáveis, d'ilusões floridas;

Sentir, sem que se veja, a quem se adora,

Compr'ender, sem ouvir, seus pensamentos,

Segui-la, sem poder fitar seus olhos,

Amá-la, sem ousar dizer que amamos,

E, temendo roçar os seus vestidos,

Arder por afogá-la em mil abraços:

Isso é amor, e desse amor se morre!

(...)

Zorro Poeta
Enviado por Zorro Poeta em 26/05/2010
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