Penélope em estado de alerta
Penélope em estado de alerta
Que mania mais sem graça tenho eu de querer reformar o mundo;
De amar sem medidas, de me sentir amado sem fronteiras, de querer sentir que sou amado de portas abertas.
No entanto, o que se me depara são mulheres de rostos assustados, Penélopes em estado de alerta.
Paro, reflito e racionalizo.
Aviso aos meus impacientes botões que elas não o fazem por mal – Penélopes sentem muita dificuldade de efetuarem um mergulho bem fundo.
Penélopes são mulheres de fibra, criam seus filhos com método; organizam sua vida com calma.
Penélopes são mulheres para ser levadas a sério.
Paradoxalmente, Penélopes também gostam de cultivar um certo ar de mistério.
São lindas mulheres. Mais lindas ainda quando se enfeitam com o melhor de seus sorrisos.
Mas, quando atinge a idade madura, Penélope busca o que sempre quis: olhar perdido no horizonte a esperar um Ulysses que lhe acarinhe a fronte - que chegue e lhe fale diretamente a alma.
Penélopes nunca se sentiram amadas.
Para que eu não aja como um Fídias desatento, devo ficar atento para amar a minha Penélope com doçura; toda doçura do mundo - doçura que ela não está acostumada.
Nós carregamos tantas travas ao longo do nosso viver, que acabamos por nos acostumar a elas. Mesmo que saibamos que essas travas são pesadas e prejudiciais, criamos uma tal afinidade com as mesmas que se torna praticamente impossível nos divorciar da carga que representam. Então, como obedientes bois de carro, aceitamos a canga na cerviz, apesar do incômodo que sentimos.
Cidade dos Sonhos, manhã de uma Segunda-Feira ensolarada de início de Março de 2010
João Bosco