PERCEPÇÃO

PERCEPÇÃO(1988)

Já não tenho a ilusão dos 15 anos,

nem a esperança dos 16,

não trago nos olhos a alegria dos 5,

nem tenho na voz a empolgação dos 10.

Já não sou criança . . .

já não sou adolescente . . .

Deveria ser jovem. não sou.

Tenho 30 anos e neste tempo

tive uma inseparável companheira: a tristeza.

E que ironia ! como perfeitas amigas

ela não tem me abandonado.

Fica ao meu lado:

quieta, observando.

Não quer abandonar-me.

é certo que não me ama,

já que tanto mal me faz.

Porém, ciumenta, possessiva,

repleta em seu egoísmo,

teme que eu, longe dela,

encontre a felicidade.

Sou jovem ainda,

mas não trago o brilho da juventude,

e nem tenho ainda,

a sabedoria dos velhos.

Sou um ponto intermediário, indefinido,

as vezes até me desconheço.

Meu corpo não sente o prazer de muitos prazeres.

Meu coração não se agita

na presença de outro coração próximo,

nem eu estou certa que poderia . .

sou um pequeno fio de percepção.

Ana Janete
Enviado por Ana Janete em 23/05/2010
Código do texto: T2275201
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