MEA-CULPA

Insensato no que digo, eis meu inferno,
Impetuoso na forma em que me expresso
Vou morrendo nos rompantes em que externo
Meus recônditos anseios, meus excessos.
 
Por guardar dentro do peito um sentimento
Um desejo de tamanha intensidade
Foi que cedi à insensatez, num vil momento,
E me matam minha culpa e veleidade.
 
Morro ainda mais por arrependimentos
Do que pelos sentimentos que me instigam
Duelam, dentro de mim, dois pensamentos
De ternura e de avidez que sempre brigam.
 
Vou, sem corretivos que desfaçam gestos,
Engolindo o fel deste arrependimento
Digerindo os erros, deglutindo os restos
Da perversão que engendrei e ora lamento.
 
Pois não há qualquer pedido de perdão
Que logre justificar o que foi feito
Nem borracha que desmanche um tal borrão
Nem lenitivo que me sane a dor do peito.
 
É na tolice já feita que reside
A vergonha que encarcera-me e devora
A luz que já brilhou, e turba-me a lide
Em que o ontem vai tragando o meu agora.
 
Foi movido por paixão inveterada
Por intenso turbilhão excitativo
Que irrompi verbologia imoderada
E sou presa da recordação que vivo.
 
Eu cravei no sonho lânguido um punhal
Que me leva a cometer, entristecido,
Suicídio de um romance angelical
Que no meu peito jazeu sem ter nascido!
 

 
Oldney Lopes©