AMORES
Amamos feito tenras crianças
Enfastiadas do estio
Desta longa vida sem lembranças...
Quem se lembraria de um grande amor
Com a precisão d’um relógio suiço
Ao despertar, irredutível, a cada alvorada
Se este não arde agora à pele, chamiço?
Antes eram as juras descompensadas,
Aquelas mentiras verdadeiras, bem-vindas
A língua a pulsar nos lábios do outro
O âmago do estômago a vibrar
Até dentre os tutanos dos ossos
Onde está este amor esquecido?
Vem então um segundo, um terceiro
E o amor perde o ideal de amar,
Contenta-se só com a conquista...
Lá se vão mais paixões
A perderem-se de vista
Amores dentro do mesmo amor,
Amores escambos do desamor...
Finda tanto afeto, sem nunca acabar-se!
Eterno e pleno nos tantos e tantos finais
E só o amor finado não morre mais...
Esgota-se na infinita paixão
De não mais querer-se a amar