Paralelas

Guardo no abraço

O vazio de um corpo sem vida,

Levado foi como foram os verões,

Sintomaticamente pelo frio,

Frio que já mora, namora a lareira,

Procura o calor, a chama devastada,

Descartada na brasa dormida,

Nas cinzas que o vento espalha.

Guardo por vez na boca,

A boca em forma exposta

O beijo que deu as costas,

No lábio cerrado sem murmúrios,

Que antes chamado de ósculos

Rebateram os toques suaves,

Perfeitos encontros, dados,

Pérolas silenciosas abertas, fugazes,

Repentinas portas fechadas.

Guardo como guardas nossos corpos,

Afoitos se negando ao pecado,

Ao fluir, fruitivo do amor,

Arrebatando o desejo,

Pássaro azul, visitante do prazer,

Nunca recebida ao aconchego da alcova.

Guardo na noite, sorri,

Na madrugada que esconde o rosto,

Apiedando-se de mim,

Guardo saudades, perfis de nossas vidas,

Materializado nos poemas que rabisco.

Guardo o desfecho da tarde,

O poente quando o sol encontrou a terra,

Mergulhou no mar

Tropeçando nos abismos que acalantei,

Sabia que teria sua guarda eternamente,

Apesar de haver uma ausência,

Um vago perfilado entre nós.