Clamor

O silêncio que rodeia é seu, é meu,

Na dor, no grito

No gesto indeciso.

O silêncio é solidão,

É esquecer-se de lembrar

Que ontem quase que por engano,

Minha boca pronunciou seu nome,

Foi um grito na multidão.

E pensar que ontem, você

Esteve em meu tempo,

E sem que saibamos a razão, o porquê,

Definiu-se tardiamente.

Tarde para tantas coisas,

Arrumações que fiz enquanto,

Enquanto havia um gesto,

Um afago ao desconhecido,

Aos segredos que os minutos contavam.

Tarde para que eu pudesse,

Soubesse reconhecer,

Contemplar manhãs vazias

Tarde como tardes foi,

Olharmos para trás e medir o calendário.

Silêncio, nosso troféu

Ganho, buscado,

Afago de mãos traiçoeiras,

Abraços de braços no ar,

Beijos nas flores já murchas.

Silêncio pedaço calado,

Fatia chocante de bolo,

Festa que celebra frustrações,

Nos gestos que a vida esqueceu,

Nas lembranças que não esqueço.