Poema 0796 - Rosário

Sou o rosário que teus dedos debulham,

as rezas que passam entre teus lábios,

cruéis, deliciosos como mel de laranjeira.

Sou o décimo terceiro apostolo da tua mesa,

os paramentos que de ouro nada tem,

o dourado que o sol forte queimou a tarde.

Sou a misericórdia dos teus poucos pecados,

o texto dos livros que jamais leu,

aqueles outros tantos desejos obscenos.

Sou o hábito, o hálito, o atalho,

a trilha que segue entre altares esplendorosos,

como o prazer que caminha lento teu nu.

Sou o sino que toca na tua torre ao anoitecer,

o som que vem da boca com o beijo ao amanhecer,

o barulho estridente e o arrepio repentino.

Sou a capela, o altar, o rosário,

o amor que te tem e enlouquece,

sou o mezanino, a música do coro, a prece.

Sou o amor que o pecado te propõe,

o inferno ou o céu que oferece,

a vida e morte em comunhão com deuses.

25/08/2006

Caio Lucas
Enviado por Caio Lucas em 25/08/2006
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