Soberania Levanto-me e antes que a rotina diária me envolva E, com seus dentes ávidos me destroce, lembro de ti... E te dou Bom Dia, de forma que me pergunto Se não serias minha maior e mais obstinada rotina. E antes que o cinza da primeira fumaça de alcatrão Se mescle aos pulmões e ao meu coração, penso em ti... E divagando me questiono se não serias então, O maior e o mais letal de todos os meus vícios. Corro, paro e caminho na louca guerra do ser E na luta diária entre o ter e o sobreviver Vejo-me impregnada pelas tuas lembranças, És soberano, em tudo o que penso e no que faço e, Te sinto nos olhos e nas vozes do velho e da criança. E me interrogo se o te esquecer não seria então A maior e mais cruel batalha que tenho que enfrentar Nesta selva feroz de uma existência vã e insana. E quando anoiteço saturada pela tua saudade, Envolta na memória de teu olhar e na poesia de teu nome, Tão vívida é a tua imagem em minha mente, Tão real é a tua presença nos vãos da nostalgia, Que nem sei divisar o que é fantasia tampouco realidade, Mas com a convicção que o teu existir ocasionou Prenúncios da imensidão e a certeza do eterno. E por fim, diária e docemente, dou-te Boa Noite e adormeço Sem saber se subirei aos céus ou descerei ao inferno... |