Não Sei...

Os barcos se amedrontam e recolhem-se aos portos

Estão com muito medo porque navegam sobre mares de mortos.

As tempestades ainda nem chegaram. Ainda não são furacões.

O velame geme, o cordame treme e aceleram-se os corações.

Talvez seja o fim. Pode ser que nada mais termine e nunca mais se comece nada...

A vida vale muito pouco, quase tudo, e não se pode mais ver a esquálida estrada.

Apenas a névoa, que encatarata e encascata os olhos de lágrimas, sobrevive cortina...

Aceleram-se a maceração e o trincamento da face, que vira terra lavrada

Pelo arado da consciência, aquele que nos oferece a última chance da volta à inocência.

Mas não! Para que voltar? Por que motivo ser puro novamente, se não existe mais a indecência?

O que será que existe de desigual entre navegar sobre um mar de mortos

E ser navegado por uma arca de condenados a cairem sem vida

Quando secarem as águas dos prazeres e o barco prostituto

Encalhar no ilusório alto das colinas de ouro-de-tolo, à mercê da misericórdia dos Ventos e das areias, sem um beijo sequer, para dividir o escorbuto.

Aldo Urruth
Enviado por Aldo Urruth em 08/05/2010
Reeditado em 08/05/2010
Código do texto: T2244861
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