DHARMA
Entrou no supermercado, e sorrateiro foi ao lugar gelado
Abriu e tomou um ou dois iogurtes, sem que fosse interpelado
Olhou em derredor, e desmedido na coragem, cortou de lado
O pacote de salsichas com dentes de menino esfaimado
Comeu em rápidos bocados aquela delicia que havia furtado
Abandonou ao lado do caixote de fruta, a prova do crime encetado
Sobras de salsicha e plástico que pode ser reciclado
( A saber: n’alma, sempre haverá o que ser renovado!).
Esgueirou-se por entre prateleiras e deteve-se extasiado
No feixe colorido, que do teto pendia, n’um convite despropositado
Olhava deslumbrado, o ovo de chocolate tantas vezes ansiado,
E, no entanto nunca apreciado, chorou por dentro... Um choro calado!
Sendo filho lembrou-se da mãe, lembrou do abraço e do regaço dado,
Lembrou - se de seu barraco, onde no retrato, sorri o cristo ressuscitado.
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Imagem: Mâe negra por N' tangu