Conversa íntima com os poetas clássicos
De Edson Gonçalves Ferreira
Para Joaquim Evônio, Maria Efigênia Coutinho,
Susana Custódio, Malubarni, Zé Albano, Maria Olímpia,
Ivone Vairinho, Zélia Nicolodi, Jorge Brissos,
Ceres Damasceno, José Domingos, Hluna,
Celina Figueiredo, Fernanda Araújo, Adélia Prado,
Ziraldo, Sônia Ortega, Milla Pereira, Hull de la Fuentes,
Joaquim e Anabela Santos, Henricabilio, Dulce Leal
David e Ana Paula Santos, João Coelho
Carlos Leite e amigos
I
Cecília, minha Cecília, doce Cecília
Vós dizeis: “Ai palavras, ai palavras, que estranha potência a vossa!”
E, sem desafinar, concordo...
Elas, poetisa, são como a cruz e a espada
Depende do lado que pegamos
Podem abençoar ou matar
Mas nos consagram dos dois modos
Porque a morte é o outro lado da vida...
II
Pessoa, meu amigo,
Sim, “O amor é um sono que chega
Para o pouco ser que se é...”
Mas, meu poeta fingidor, vossa visão é melancólica demais
E sois tão grande e tão amado
Que só vos compreendo porque sei
As almas dos poetas querem a completude
E só a teremos em Deus.
III
Júlio, vós cantais assim:
“Que o cisne vivo cheio de saudade,
Nunca mais cante, nem sozinho nade,
Nem nade nunca mais ao lado d´outro cisne...”
Vós esperais, amigo, demais do ser amado!
É possível amar diferente outra pessoa
E ninguém é substituível nem insubstituível.
Poetinha, se nosso bem-querer morre,
Nada mais feliz que encontrar um amor diferente
E, com ele, dividir as lembranças felizes...
IV
Florbela, vós sussurrais:
“Pra onde iria a´strela? Flor fugidia
Ao ramalhete atado no infinito...”
Perguntais por perguntar
Sabeis, de antemão, as estrelas estão é nos nossos olhos
Sim, nos olhos dos amantes.
Lá nas alturas, só existem astros comuns
Que sem o nosso olhar passional, não teriam tamanha beleza
O que empresta beleza às coisas, grande poetisa, é o amor!
V
Bilac, meu amigo, não se justifique
“Ora (direis) ouvir estrelas! Certo
Perdeste o senso!” E eu vos direi
Que, para ouvi-las...”, todos nós despertamos, poeta!
Sem a loucura de ouvir as estrelas,
De achar que a lua olha para nós, amigo,
O amor seria racional demais!
Só os amados e os amantes são capazes de ouvir
De ouvir e de entender as estrelas
E é isso que dá sentido à vida: a entrega para o amor.
Edson Gonçalves Ferreira no túmulo de Luís Vaz de Camões
VI
Camões, convosco dialogo diferente
Vós dizei: “O amor é fogo que arde sem se ver”
Eu não concordo plenamente.
Nós vemos com os olhos d´alma,
Quando a flecha do Cupido nos acerta
É tão próprio de nós, ó poeta, o fingir,
O fingir que fingimos que não vemos,
Quando vemos que estamos “presos por vontade”
E deixamos que essa dor que não é dor,
Desatine e se torne uma rosa de sangue no nosso peito!
VII
Castro Alves, ó poeta dos escravos, vós sois, até hoje, luz!...
Vossos versos: “Era um sonho dantesco.... O tombadilho...”
Ainda vigoram. Só que o tombadilho é, agora,
Sim, o solo é, agora, todo espaço público manchado de sangue
Pelos governos desgovernados de muitos países
E nós todos, poeta, vivemos debaixo da chibata
Enquanto “Um de raiva delira, outro enlouquece”, poeta
A vossa pergunta é tão viva: “Que importa do nauta o berço,
Donde é filho, qual seu lar?... Aqui, Castro Alves, o povo todo vive...
Vive a gritar: “Senhor Deus dos desgraçados!
Dizei-me vós, Senhor Deus!
Se é loucura... se é verdade
Tanto horror perante os céus (?)”.
VII
Camões, meu amado poeta, quando dizeis também:
“Cessem do sábio Grego e do Troiano
As navegações grandes que fizeram...”, eu concordo.
Sim, porque nós, poetas, já tivemos e teremos aventuras maiores,
E não atravessaremos só terras e mares,
Reinventamos espaço e tempo para nos multiplicar
E, assim, múltiplos viajamos até no espaço físico e não físico
E multiplicamos tanto as nossas conquistas
Que a Musa antiga já nem dá conta mais de cantar.
Cantam, hoje, novas divindades
Dos mundos que vós mesmos, meu amigo, não conhecestes.
Embora sejais nosso herói na odisséia da vida.
VIII
E vós, Carlos Drummond, que dizeis:
“No meio do caminho, tinha uma pedra...”
Todos nós já sabemos disso,
Embora vós escrevestes poeticamente, divinamente,
Essa pedra, amigo, somos nós
E, talvez, muita gente não tenha pensado nisso.
Vós, porém, sabíeis disso e foi isso que,
Quando lançastes o poema, criou tal celeuma.
No meio do caminho, estamos nós que, às vezes,
Somos flores e outras, infelizmente, pedra,
Só pedra, meu amigo!
"Poesia é só o que causa estesia, verso é outra coisa!"
Divinópolis, 06.05.2010
De Edson Gonçalves Ferreira
Para Joaquim Evônio, Maria Efigênia Coutinho,
Susana Custódio, Malubarni, Zé Albano, Maria Olímpia,
Ivone Vairinho, Zélia Nicolodi, Jorge Brissos,
Ceres Damasceno, José Domingos, Hluna,
Celina Figueiredo, Fernanda Araújo, Adélia Prado,
Ziraldo, Sônia Ortega, Milla Pereira, Hull de la Fuentes,
Joaquim e Anabela Santos, Henricabilio, Dulce Leal
David e Ana Paula Santos, João Coelho
Carlos Leite e amigos
I
Cecília, minha Cecília, doce Cecília
Vós dizeis: “Ai palavras, ai palavras, que estranha potência a vossa!”
E, sem desafinar, concordo...
Elas, poetisa, são como a cruz e a espada
Depende do lado que pegamos
Podem abençoar ou matar
Mas nos consagram dos dois modos
Porque a morte é o outro lado da vida...
II
Pessoa, meu amigo,
Sim, “O amor é um sono que chega
Para o pouco ser que se é...”
Mas, meu poeta fingidor, vossa visão é melancólica demais
E sois tão grande e tão amado
Que só vos compreendo porque sei
As almas dos poetas querem a completude
E só a teremos em Deus.
III
Júlio, vós cantais assim:
“Que o cisne vivo cheio de saudade,
Nunca mais cante, nem sozinho nade,
Nem nade nunca mais ao lado d´outro cisne...”
Vós esperais, amigo, demais do ser amado!
É possível amar diferente outra pessoa
E ninguém é substituível nem insubstituível.
Poetinha, se nosso bem-querer morre,
Nada mais feliz que encontrar um amor diferente
E, com ele, dividir as lembranças felizes...
IV
Florbela, vós sussurrais:
“Pra onde iria a´strela? Flor fugidia
Ao ramalhete atado no infinito...”
Perguntais por perguntar
Sabeis, de antemão, as estrelas estão é nos nossos olhos
Sim, nos olhos dos amantes.
Lá nas alturas, só existem astros comuns
Que sem o nosso olhar passional, não teriam tamanha beleza
O que empresta beleza às coisas, grande poetisa, é o amor!
V
Bilac, meu amigo, não se justifique
“Ora (direis) ouvir estrelas! Certo
Perdeste o senso!” E eu vos direi
Que, para ouvi-las...”, todos nós despertamos, poeta!
Sem a loucura de ouvir as estrelas,
De achar que a lua olha para nós, amigo,
O amor seria racional demais!
Só os amados e os amantes são capazes de ouvir
De ouvir e de entender as estrelas
E é isso que dá sentido à vida: a entrega para o amor.
Edson Gonçalves Ferreira no túmulo de Luís Vaz de Camões
VI
Camões, convosco dialogo diferente
Vós dizei: “O amor é fogo que arde sem se ver”
Eu não concordo plenamente.
Nós vemos com os olhos d´alma,
Quando a flecha do Cupido nos acerta
É tão próprio de nós, ó poeta, o fingir,
O fingir que fingimos que não vemos,
Quando vemos que estamos “presos por vontade”
E deixamos que essa dor que não é dor,
Desatine e se torne uma rosa de sangue no nosso peito!
VII
Castro Alves, ó poeta dos escravos, vós sois, até hoje, luz!...
Vossos versos: “Era um sonho dantesco.... O tombadilho...”
Ainda vigoram. Só que o tombadilho é, agora,
Sim, o solo é, agora, todo espaço público manchado de sangue
Pelos governos desgovernados de muitos países
E nós todos, poeta, vivemos debaixo da chibata
Enquanto “Um de raiva delira, outro enlouquece”, poeta
A vossa pergunta é tão viva: “Que importa do nauta o berço,
Donde é filho, qual seu lar?... Aqui, Castro Alves, o povo todo vive...
Vive a gritar: “Senhor Deus dos desgraçados!
Dizei-me vós, Senhor Deus!
Se é loucura... se é verdade
Tanto horror perante os céus (?)”.
VII
Camões, meu amado poeta, quando dizeis também:
“Cessem do sábio Grego e do Troiano
As navegações grandes que fizeram...”, eu concordo.
Sim, porque nós, poetas, já tivemos e teremos aventuras maiores,
E não atravessaremos só terras e mares,
Reinventamos espaço e tempo para nos multiplicar
E, assim, múltiplos viajamos até no espaço físico e não físico
E multiplicamos tanto as nossas conquistas
Que a Musa antiga já nem dá conta mais de cantar.
Cantam, hoje, novas divindades
Dos mundos que vós mesmos, meu amigo, não conhecestes.
Embora sejais nosso herói na odisséia da vida.
VIII
E vós, Carlos Drummond, que dizeis:
“No meio do caminho, tinha uma pedra...”
Todos nós já sabemos disso,
Embora vós escrevestes poeticamente, divinamente,
Essa pedra, amigo, somos nós
E, talvez, muita gente não tenha pensado nisso.
Vós, porém, sabíeis disso e foi isso que,
Quando lançastes o poema, criou tal celeuma.
No meio do caminho, estamos nós que, às vezes,
Somos flores e outras, infelizmente, pedra,
Só pedra, meu amigo!
"Poesia é só o que causa estesia, verso é outra coisa!"
Divinópolis, 06.05.2010