Odara*

Que tu voltes deusa Odara,

tropicália ninfa Yara.

Que sempre me sejas cara

e eu, devoto dessa santa tara.

Dessa distante pérola rara,

misto de mel e fruta amara,

qual virgem que já amara

em noites de paixão ignara,

nos becos em que nada se repara.

Que perdure a volúpia,

rubro rubi rúbia.

Mas que cesse a orgia celerada

da utopia deflorada.

Que em tudo inexista logro,

que Prometeu reavive o fogo

e que Pã, fauno e ogro,

afaste o dia do malogro.

Que persista algum carinho

nesse nó redemoinho,

nesse pleno sozinho,

qual quixotesco moinho.

E entao, quando tudo houver,

que eu te saiba minha mulher.

* Da poética de Caetano Veloso e Gilberto Gil