Amor de Artista
Sou poesia, dança, música, teatro
Interpreto melodias; escrevo movimentos
Som. Escrita. Passos cadenciados. Interpretação.
(in)definem-se numa mistura homogênea
Doçura artística de confusão!
Escrevo versos que mais parecem dança:
Ritmos acelerados, movimento histérico das palavras
Batidas fortes, quase ritualísticas
De uma poesia feita de amores dramatizados
Coreografados, musicados e incompreensíveis
Tantos personagens, tantas tramas
E eu, que sempre fui protagonista
Agora, coadjuvante agônica
do seu amor instantâneo, seco, mal inventado
tão à margem da minha alma de “artista” frustrada
Sem rascunho, sem ensaio, sem roteiro
Numa nudez de malícia
Entrego-me à sua poesia canalha
Tão expressivamente ínfima: Faz-me delirar, bailar
Acompanhada de uma música misteriosa, sedutora
Mas, sem sequer tentar improvisar
Recomponho-me, reprimo os desejos
Ponho-me de volta na redoma de aridez
E num cauto amargo,
Evito, também, esse seu olhar acre
Que carcome meu coração em descompasso.