É de noite meu amor, é de noite…
Na qual eu durmo acordado
Na qual sei que me enquadro
Na insónia perpétua
De estar a teu lado…
Porque nas trevas
Eu gero a iluminação
Em portentosas horas de afectos secretos
Da mais suprema criação
Enquanto te escrevo mais um conto
Que quero de encantar
Enquanto te escrevo mais um poema
Que surge ao ritmo diletante
E misterioso
De mais um beijo que te dou
Um beijo curioso
Pela sua intermitência
Pela sua brevidade
Porque um segundo e um beijo para mim
Duram uma eternidade…
E as estrelas e a vida
São iluminações breves
Iluminações momentâneas
Perante as tarefas que executo
Tarefas tamanhas
Que essas sim duram imenso tempo
A elas e a elas e quase só a elas
Me dedico
Com insuspeita dedicação
Escrever e viver para escrever
Até que me falte a inspiração
E assim não posso ser teu
Como desejarias
Não posso ser de nada
Nem de ninguém
Pertenço ao vento
Que é breve
E ao mesmo tempo eterno
Pertenço a quem me ama
Ou quem há de mim gostar
Mas essa gente
Tem que saber
Que a elas nunca me darei
Na plenitude da humanidade
Pertenço pois aqui
A quem
E a qualquer outro lugar…