Clarim
Às vezes não é com rosas
que a gente conquista um sonho.
A poesia possui outros papéis...
É necessário desensarilhar os versos,
erguer trincheira com as palavras,
munir-se de punhal de lua
e desferir o verbo.
O destino é uma metáfora
que espera de tocaia.
É preciso prever as armadilhas
pra não ser surpreendido.
Não há como se esquivar
nem fugir.
A vida não tem casamata,
no tempo não há atalhos.
Às vezes o verso tem que ser perverso...
A pena é também um sabre
em defesa da poesia.
Todo sonho é suscetível de emboscadas
no trajeto.
É preciso expor o gume do poema que se forja,
perfilar-se ao pé das sílabas
e se armar de unha e dente
com sonoro regimento.
Deixo as rosas pra depois
quando o cerco desfizer-se
e o sonho celebrar-se.
A marcha agora é outra:
Tem cadência de tambores...
Deixa a lira repousada sob a colcha de cetim,
vou polir os meus metais,
aferir a mira e o passo
do poema que acorda com acordes de clarim.