Amor Além da Vida
A solidão do quarto me projeta pela cidade
Edifícios, buzinas, becos, fumaça, gato preto
Nuvens negras de caos e cumplicidade
Nenhuma alma vai contar que fui liberto
E por detrás dos vultos que te espreitam na madrugada
Eu caminho sem deixar-te ver-me em ti tenaz
No grilo da tua mente empapuçada
Da neura insistente de olhar pra trás
Uma lágrima escorre na tua face
Como um rio a caminho do mar
Pinga no asfalto molhado como parte
Da chuva que a noite se achega pra esfriar
Seus passos tortos trocados na imensidão
Silêncio, madrugada, alarmes, dor
Teu sobretudo arrastando no chão molhado, solidão
Algumas dores provenientes do amor
Você procura as poesias no jornal rasgado
Teus cabelos encharcados e o chapéu desalinhado
Maquiagem borrada, batom vermelho-sangue
E teus olhos calados em que algo os estranhe
É uma dor cruelmente calada
Consegue cortar-te sem nada dizer
Bela moça dos olhos de fada
Que sina é esta pra se viver?
Em tua aflição, o deleite dos meus sonhos
Preciso estar contigo, tocar-te surdamente
Muito além dos teus desejos medonhos
E dos abismos que criaram sua mente...
Você poderia estar em bilhões de lugares
No entanto, senta-te nas calçadas com tuas miudezas
E adormece ao desesperar-se
Percebendo ainda estar presa...
Quando libertares enfim tua alma
Do teu aflito e confuso corpo
Reencontraremo-nos na calma
De um amor então, morto!