NO ESPELHO
Procuro no espelho a minha face perdida.
Vejo o rosto exangue donde foge a vida,
mãos desertas e feridas no supremo esforço da libertação.
As cinzas onde se queimou o alto valor pago pelo engano
ainda me cobrem o corpo e embaçam o olhar.
Procuro no espelho frio o seu rosto.
Mas só vislumbro no imaginário, sua máscara.
Ou o rosto que eu conhecia era a máscara?
A dúvida no espelho se faz pranto de olhos vazios.
Procuro no espelho partido nosso mundo e o sonho prometido.
Onde ficou o castelo, o príncipe, o senhor?
Só há destroços e dor por todo canto!
E no espelho, o mascarado sorri indiferente ao fim do baile.